Denominação Comum Internacional (DCI): Paracetamol (Acetaminofeno).
Grupo farmacoterapêutico: Analgésicos não opiáceos e antipiréticos. Código ATC: N02BE01. Pertence à classe das anilidas derivadas do para-aminofenol, com efeito analgésico e antipirético, mas pouca ação anti-inflamatória.
2. Indicações Principais
O paracetamol é utilizado para o tratamento sintomático de:
Dores ligeiras a moderadas, como cefaleias, enxaquecas, dores dentárias, otalgias, dores traumáticas, musculares e articulares.
Febre associada a estados gripais, pós-vacinação, ou outras condições febris.
Osteoartrose e outras condições reumáticas não inflamatórias.
Dismenorreia.
Alívio da dor pré e pós-operatória.
É também um analgésico de primeira linha para a maioria das formas de dor aguda e crónica, podendo ser utilizado isoladamente para dores ligeiras ou em combinação com outros analgésicos (como opioides ou AINEs) para dores mais intensas.
3. Mecanismos de Ação
Inibe a síntese de prostaglandinas no SNC, atuando como co-substrato redutor no que se pensa ser a COX-3 (uma variante diferente das COX-1 e COX-2), resultando em analgesia e antipirese.
Atua no centro de termorregulação do hipotálamo, reduzindo as concentrações de prostaglandina E2 (PGE2) e promovendo vasodilatação e sudorese para reduzir a febre.
Tem pouca inibição periférica das prostaglandinas, justificando a ausência de ação anti-inflamatória significativa, devido à inibição da sua ação por peróxidos nos tecidos inflamados.
Pode também ativar vias serotoninérgicas descendentes e inibir a recaptação de canabinoides endógenos, contribuindo para o seu efeito analgésico.
Não interfere na função plaquetária nem causa irritação gastrointestinal, diferenciando-se dos AINEs.
4. Aspectos-Chave da Posologia e Modo de Administração
Adultos: A dose habitual de paracetamol para adultos é de 500 mg a 1 g, administrada 2 a 4 vezes por dia. Deve ser respeitado um intervalo mínimo de 4 horas entre as administrações, preferencialmente de 6 a 8 horas. A dose máxima diária não deve exceder 4 g para evitar o risco de hepatotoxicidade.
População pediátrica: A dosagem para crianças deve ser ajustada conforme o peso corporal, com base na recomendação de 10 a 15 mg/kg/dose, administrada a cada 4 a 6 horas. A dose máxima diária para crianças é de 60 mg/kg/dia, sem exceder 4 doses em 24 horas. Existem formulações pediátricas específicas.
Insuficiência hepática: Em doentes com insuficiência hepática, a dose de paracetamol deve ser reduzida para um máximo de 2 g/dia, devido ao risco aumentado de toxicidade hepática. Monitorização frequente da função hepática é essencial.
Insuficiência renal: O ajustamento da dose depende do clearance de creatinina (ClCr):
ClCr 50-10 ml/min: 500 mg a cada 6 horas.
ClCr <10 ml/min: 500 mg a cada 8 horas.
Monitorização da função renal é recomendada em casos de insuficiência renal grave.
Via de administração: Paracetamol pode ser administrado por via oral (tem biodisponibilidade de 88% e atinge o pico de concentração plasmática 90 minutos depois da ingestão), retal ou intravenosa (IV). A via IV deve ser reservada para pacientes incapazes de tomar medicamentos por via oral e, devido ao custo elevado, deve ser substituída pela via oral o mais rapidamente possível.
5. Efeitos Adversos e Precauções/Contraindicações Relevantes
Efeitos adversos comuns: O paracetamol é geralmente bem tolerado, mas pode causar náuseas, vómitos, sonolência ligeira e sudorese.
Efeitos adversos raros: Reações alérgicas graves (anafilaxia), trombocitopenia e agranulocitose, alterações hepáticas, incluindo hepatite medicamentosa.
Precauções: O uso prolongado de paracetamol pode levar à hepatotoxicidade, especialmente em doentes com:
Alcoolismo crónico: Aumento da produção de NAPQI, com risco aumentado de toxicidade hepática.
Malnutrição e baixo peso corporal: Depleção das reservas de glutationo, aumentando o risco de dano hepático.
Insuficiência hepática grave: Monitorização rigorosa da função hepática.
Em casos de sobredosagem, acetilcisteína deve ser administrada para prevenir hepatotoxicidade.
6. Interações Clinicamente Relevantes
Indutores enzimáticos (carbamazepina, fenitoína): Aumentam a produção de NAPQI, aumentando o risco de hepatotoxicidade.
Álcool crónico: Potencia o risco de toxicidade hepática.
7. Aspectos-Chave da Utilização em Populações Especiais
Gravidez: O paracetamol é considerado seguro durante a gravidez quando utilizado em doses adequadas, sendo a escolha preferida para o alívio da dor e febre. Deve ser utilizado na menor dose eficaz e pelo menor período de tempo possível para evitar possíveis riscos ao feto.
Aleitamento: Paracetamol é excretado no leite materno em quantidades insignificantes, o que o torna seguro para uso durante a amamentação. Não há efeitos adversos significativos conhecidos em lactentes expostos ao paracetamol através do leite materno.
Idosos: Nos idosos, não há necessidade de ajuste de dose em geral, mas é importante considerar a função hepática e renal. A possibilidade de polimedicação e interações com outros fármacos deve ser cuidadosamente monitorizada, especialmente em casos de insuficiência renal ou hepática subjacentes.
Insuficiência hepática: Em doentes com insuficiência hepática leve a moderada, a dose deve ser reduzida, com monitorização frequente da função hepática. Em casos graves, como cirrose descompensada, o uso de paracetamol deve ser restrito ou cuidadosamente monitorizado devido ao risco de hepatotoxicidade.
Insuficiência renal: A insuficiência renal grave requer ajustes na dose e no intervalo de administração para evitar a acumulação de metabolitos tóxicos. Recomenda-se monitorização rigorosa da função renal em doentes com insuficiência renal crónica, especialmente quando a depuração de creatinina é inferior a 30 mL/min.
Alcoolismo crónico: O uso de paracetamol em alcoólicos crónicos deve ser limitado a doses menores, como 2 g/dia, devido ao aumento da produção de NAPQI e à depleção das reservas de glutationo, aumentando o risco de hepatotoxicidade. A função hepática deve ser monitorizada com frequência.
Baixo peso corporal (menos de 50 kg): Doentes com peso corporal abaixo de 50 kg devem receber doses reduzidas de paracetamol, uma vez que o risco de toxicidade hepática é aumentado devido ao menor volume de distribuição do fármaco e à potencial redução das reservas de glutationa.
Doentes com malnutrição: Em doentes desnutridos, as reservas de glutationa no fígado podem estar reduzidas, aumentando o risco de hepatotoxicidade. Nestes casos, a dose máxima diária de paracetamol deve ser ajustada para 2 g/dia, e a função hepática monitorizada regularmente.
Crianças: O uso de paracetamol em crianças é seguro quando as doses são ajustadas de acordo com o peso corporal. É importante monitorizar a frequência e quantidade de administração para evitar sobredosagens, especialmente ao utilizar formas líquidas ou supositórios.
Pacientes em estado crítico: Em pacientes gravemente enfermos ou em estado crítico (ex. unidades de cuidados intensivos), especialmente os que estão a receber infusões IV de paracetamol, a dose deve ser cuidadosamente ajustada, considerando fatores como insuficiência hepática ou renal e desnutrição.
Doentes com hepatite viral ativa ou história de hepatite: Embora o paracetamol possa ser utilizado com cautela em doentes com hepatite viral prévia ou atual, deve-se monitorizar atentamente a função hepática para evitar exacerbações da doença hepática.
8. Informação aos Doentes
Explicar que o paracetamol é eficaz na redução da dor e febre, com efeito dentro de 30 minutos após a ingestão.
Alertar para não exceder a dose diária máxima (4 g) e verificar se outros medicamentos contêm paracetamol para evitar sobredosagem.
Reforçar a importância de evitar o consumo de álcool durante o tratamento.
9. Monitorização
Eficácia: Monitorizar o alívio da dor com escalas de dor e rever o tratamento conforme necessário.
Segurança: Monitorização da função hepática em pacientes de risco ou em tratamentos prolongados. Em caso de sobredosagem, monitorizar níveis de paracetamol no sangue e função hepática.
10. Notas Adicionais
O paracetamol está amplamente disponível em formas genéricas a baixo custo. É comparticipado em algumas formulações, dependendo da indicação clínica. Estudos recentes sugerem uma eficácia limitada em condições como osteoartrose.
Não há evidência de alta qualidade que suporte ou refute o uso de paracetamol isoladamente ou em combinação com opiáceos nos primeiros dois passos da escada analgésica da OMS para dor oncológica. (Wiffen et al., 2017)
Paracetamol 1000 mg proporcionou um pequeno benefício em termos de alívio da dor a duas horas para pessoas com cefaleia tensional episódica aguda de intensidade moderada a severa. (Stephens et al., 2016)
Uma dose única de paracetamol pode melhorar o alívio da dor perineal após o parto vaginal, mas são necessários mais estudos para avaliar os efeitos adversos maternos e neonatais. (Abalos et al., 2021)
As evidências sobre a eficácia do paracetamol ou AINEs no alívio da dor de ouvido a curto prazo em crianças com otite média aguda são limitadas e incertas. (Sévaux et al., 2023)
O paracetamol pode reduzir a necessidade de morfina após grandes cirurgias em recém-nascidos, mas as evidências atuais são insuficientes para determinar o seu papel na redução da dor em neonatos. (Ohlsson & Shah, 2020)
Paracetamol 1000 mg é estatisticamente superior ao placebo no tratamento de enxaqueca aguda, mas outros analgésicos têm NNTs inferiores. (Derry & Moore, 2013)
Não existem ensaios clínicos randomizados que suportem ou refutem o uso de paracetamol para dor crónica não-oncológica em crianças e adolescentes. (Cooper et al., 2017)
Há poucas evidências comparando diferentes intervenções para a sobredosagem de paracetamol; o carvão ativado parece ser a melhor escolha para reduzir a absorção. (Chiew et al., 2018)
Uma dose única de paracetamol oferece alívio eficaz da dor pós-operatória em adultos por cerca de quatro horas, com poucos efeitos adversos leves. (Toms et al., 2008)
O paracetamol pode ajudar a aliviar a obstrução nasal e a rinorreia, mas não melhora outros sintomas da constipação comum. (Li et al., 2013)
Paracetamol não apresentou melhores resultados do que o placebo no tratamento da dor lombar aguda, levantando incertezas sobre a sua recomendação como primeira linha de tratamento. (Saragiotto et al., 2016)
Paracetamol oferece apenas melhorias mínimas na dor e função para pessoas com osteoartrite do joelho ou anca, sem aumento do risco de eventos adversos. (Leopoldino et al., 2019)
Acetaminofeno 1000 mg é significativamente mais eficaz do que o placebo no tratamento de enxaquecas episódicas e moderadas, proporcionando também melhorias nos sintomas associados, como náusea e fotofobia. (Prior et al., 2010)
11. Pérolas para a Utilização na Prática Clínica
Sobredosagem: O paracetamol é uma causa importante de insuficiência hepática aguda; o tratamento com N-acetilcisteína deve ser iniciado o mais precocemente possível.
Eficácia em enxaquecas: 1000 mg de paracetamol pode ser eficaz em crises moderadas; combinar com metoclopramida aumenta a eficácia.
Monitorização rigorosa: Necessária em doentes com risco de hepatotoxicidade, como alcoólicos ou desnutridos.
Denominação Comum Internacional (DCI): Bisoprolol.
Grupo farmacoterapêutico: Bloqueadores seletivos dos recetores beta-adrenérgicos (beta-bloqueadores cardioselectivos). Código ATC: C07AB07. O bisoprolol é um agente bloqueador beta1-adrenérgico altamente seletivo, sem atividade simpatomimética intrínseca e com atividade estabilizadora de membrana negligenciável.
2. Indicações Principais
O bisoprolol está indicado para o tratamento de:
Hipertensão arterial: Como monoterapia ou em associação com outros agentes anti-hipertensores.
Angina de peito crónica estável: Reduzindo a frequência e a gravidade dos episódios anginosos.
Insuficiência cardíaca crónica estável: Com função sistólica ventricular esquerda reduzida, em combinação com inibidores da ECA, diuréticos e, opcionalmente, glicosídeos cardíacos.
3. Mecanismos de Ação
O bisoprolol é um bloqueador competitivo e seletivo dos recetores beta1-adrenérgicos, localizados predominantemente no coração.
A redução da estimulação beta1-adrenérgica diminui a frequência cardíaca, o débito cardíaco e a pressão arterial, reduzindo a carga de trabalho do coração e o consumo de oxigénio.
Inibe a libertação de renina pelos rins, contribuindo para o efeito anti-hipertensor.
Em doses terapêuticas, apresenta mínima afinidade pelos recetores beta2-adrenérgicos dos músculos lisos vasculares e brônquicos, reduzindo o risco de efeitos adversos pulmonares e vasculares periféricos.
A seletividade beta1 mantém-se até doses elevadas; contudo, em doses muito altas, pode ocorrer bloqueio beta2, levando a broncoconstrição e vasoconstrição.
4. Aspectos-Chave da Posologia e Modo de Administração
Hipertensão arterial e angina de peito crónica estável:
Adultos: A dose inicial habitual é de 5 mg uma vez ao dia. Em casos leves, pode iniciar-se com 2,5 mg. Se necessário, a dose pode ser aumentada para 10 mg uma vez ao dia. A dose máxima recomendada é de 20 mg por dia.
Idosos: Não é necessário ajuste de dose, mas recomenda-se iniciar com a menor dose eficaz.
Insuficiência renal ou hepática: Em casos de insuficiência renal ou hepática ligeira a moderada, não é necessário ajuste de dose. Em insuficiências graves, a dose diária não deve exceder 10 mg.
Insuficiência cardíaca crónica estável:
O tratamento requer uma fase de titulação cuidadosa sob supervisão médica:
Semana 1: 1,25 mg uma vez ao dia.
Semana 2: 2,5 mg uma vez ao dia.
Semana 3: 3,75 mg uma vez ao dia.
Semanas 4-7: 5 mg uma vez ao dia.
Semanas 8-11: 7,5 mg uma vez ao dia.
A partir da semana 12: 10 mg uma vez ao dia (dose de manutenção).
Durante a titulação, monitorizar frequentemente os sinais vitais e sintomas de agravamento da insuficiência cardíaca. Se necessário, a dose pode ser ajustada ou reduzida temporariamente.
População pediátrica: Não se recomenda o uso de bisoprolol em crianças e adolescentes, devido à falta de dados de segurança e eficácia.
Modo de administração: Os comprimidos devem ser tomados de manhã, com ou sem alimentos, e ingeridos com água. Não devem ser mastigados ou esmagados.
5. Efeitos Adversos e Precauções/Contraindicações Relevantes
Efeitos adversos comuns:
Sistema nervoso: Tonturas, cefaleias, especialmente no início do tratamento.
Cardíacos: Bradicardia, agravamento da insuficiência cardíaca, hipotensão.
Asma brônquica e DPOC: Utilizar com precaução; pode ser necessário ajustar a dose de broncodilatadores.
Diabetes mellitus: Pode mascarar sintomas de hipoglicemia; monitorização regular da glicemia é recomendada.
Insuficiência cardíaca: Iniciar tratamento apenas em condições estáveis; titulação cuidadosa é essencial.
Feocromocitoma: Não iniciar bisoprolol sem bloqueio alfa prévio.
Doenças vasculares periféricas: Pode agravar sintomas de claudicação intermitente ou síndrome de Raynaud.
Psoríase: Pode exacerbar sintomas; avaliar risco-benefício.
Reações alérgicas severas: Pode aumentar a sensibilidade aos alérgenos e a gravidade das reações anafiláticas.
Contraindicações:
Hipersensibilidade ao bisoprolol ou a qualquer excipiente.
Insuficiência cardíaca aguda ou descompensação que requeira terapêutica inotrópica intravenosa.
Choque cardiogénico.
Bloqueio auriculoventricular de segundo ou terceiro grau sem pacemaker.
Síndrome do nódulo sinusal.
Bradicardia sintomática.
Hipotensão sintomática.
Asma brônquica grave ou doença pulmonar obstrutiva crónica severa.
Acidose metabólica.
Feocromocitoma não tratado.
6. Interações Clinicamente Relevantes
Antagonistas do cálcio (verapamilo, diltiazem): Risco aumentado de bradicardia, hipotensão e bloqueio AV; evitar uso concomitante.
Antiarrítmicos de classe I (quinidina, disopiramida): Potenciam efeitos negativos na condução AV e função miocárdica.
Medicamentos anti-hipertensores de ação central (clonidina, metildopa): Podem diminuir o tónus simpático; risco de hipertensão de rebote na descontinuação abrupta.
Insulina e antidiabéticos orais: Potenciam o efeito hipoglicemiante; podem mascarar sinais de hipoglicemia.
Anestésicos gerais: Podem atenuar a taquicardia reflexa e aumentar o risco de hipotensão; informar o anestesista antes da cirurgia.
Glicosídeos digitálicos: Podem aumentar o tempo de condução AV e induzir bradicardia.
AINEs: Podem diminuir o efeito anti-hipertensor do bisoprolol.
Simpaticomiméticos beta (isoprenalina, dobutamina): Efeito reduzido quando usados concomitantemente.
Simpaticomiméticos alfa e beta (noradrenalina, adrenalina): Podem causar hipertensão e exacerbação da claudicação intermitente.
Mefloquina: Aumenta o risco de bradicardia.
Inibidores da MAO (exceto MAO-B): Podem potenciar o efeito hipotensor do bisoprolol.
7. Aspectos-Chave da Utilização em Populações Especiais
Gravidez: Bisoprolol pode causar efeitos nocivos no feto; utilizar apenas se estritamente necessário. Monitorizar fluxo uteroplacentário e crescimento fetal.
Aleitamento: Não se sabe se o bisoprolol é excretado no leite materno; não se recomenda o aleitamento durante o tratamento.
Idosos: Geralmente não requer ajuste de dose, mas iniciar com doses baixas e monitorizar a resposta.
Insuficiência renal ou hepática: Em casos graves, não exceder 10 mg por dia; monitorização cuidadosa é necessária.
Crianças: A segurança e eficácia não foram estabelecidas; não recomendado em pacientes pediátricos.
Doença pulmonar obstrutiva crónica: Utilizar com precaução; risco de broncospasmo.
Diabetes mellitus: Pode mascarar sinais de hipoglicemia; monitorizar glicemia regularmente.
Psoríase: Pode agravar a doença; utilizar apenas após avaliação cuidadosa.
Distúrbios da circulação periférica: Pode agravar sintomas; monitorizar cuidadosamente.
Feocromocitoma: Não iniciar sem bloqueio alfa prévio; risco de crise hipertensiva.
8. Informação aos Doentes
Tomar o medicamento exatamente como prescrito, preferencialmente de manhã.
Não interromper o tratamento abruptamente sem consultar o médico.
Informar o médico sobre qualquer dificuldade respiratória, fadiga extrema ou batimentos cardíacos lentos.
Se for diabético, monitorizar a glicemia regularmente, pois os sintomas de hipoglicemia podem ser mascarados.
Informar profissionais de saúde sobre o uso de bisoprolol antes de qualquer cirurgia ou tratamento médico.
Evitar o consumo excessivo de álcool, pois pode potenciar os efeitos hipotensores.
9. Monitorização
Eficácia: Monitorizar a pressão arterial, frequência cardíaca e sintomas associados à condição tratada (angina, insuficiência cardíaca).
Segurança: Observar sinais de bradicardia, hipotensão, broncospasmo e reações alérgicas. Em pacientes com insuficiência renal ou hepática, monitorizar função renal e hepática periodicamente.
10. Notas Adicionais
Estudos clínicos: O estudo CIBIS II demonstrou que o bisoprolol reduz significativamente a mortalidade e hospitalizações em pacientes com insuficiência cardíaca crónica estável.
Formas farmacêuticas disponíveis: Comprimidos revestidos por película de 1,25 mg, 2,5 mg, 5 mg e 10 mg, permitindo ajuste flexível da dose.
Descontinuação: A interrupção do tratamento deve ser feita gradualmente ao longo de 1-2 semanas para evitar efeitos de rebote.
Uso em cirurgia: Informar o anestesista sobre o uso de bisoprolol; pode ser necessário ajustar a terapêutica antes de procedimentos cirúrgicos.
11. Pérolas para a Utilização na Prática Clínica
Titulação cuidadosa: Fundamental em pacientes com insuficiência cardíaca para minimizar o risco de descompensação.
Cardioselectividade: A preferência por bisoprolol em pacientes com doenças pulmonares obstrutivas devido à sua seletividade beta1.
Monitorização regular: Importante para ajustar a dose e garantir a segurança do paciente, especialmente durante alterações na terapêutica.
Interrupção gradual: Evita potenciais efeitos adversos associados à retirada abrupta, como exacerbação da angina ou arritmias.
Educação do paciente: Esclarecer sobre a importância da adesão ao tratamento e comunicação de quaisquer efeitos adversos.
Denominação Comum Internacional (DCI): Semaglutido.
Grupo farmacoterapêutico: Medicamentos usados no tratamento da diabetes, análogos do péptido-1 semelhante ao glucagon (GLP-1). Código ATC: A10BJ06.
2. Indicações Principais
O semaglutido é indicado para o tratamento de adultos com diabetes mellitus tipo 2 insuficientemente controlada, como adjuvante à dieta e exercício físico, para melhorar o controlo glicémico. As principais indicações incluem:
Monoterapia: Quando a metformina é considerada inapropriada devido a intolerância ou contraindicações.
Terapia combinada: Em associação com outros medicamentos para o tratamento da diabetes, como metformina, sulfonilureias, tiazolidinedionas, inibidores do SGLT2 ou insulina basal.
Além disso, o semaglutido é indicado para a gestão crónica do peso em adultos com:
Índice de Massa Corporal (IMC) ≥30 kg/m² (obesidade).
IMC ≥27 kg/m² a <30 kg/m² (excesso de peso) com pelo menos uma comorbilidade relacionada com o peso, como hipertensão, dislipidemia, apneia obstrutiva do sono ou diabetes tipo 2.
Também demonstrou eficácia na redução do risco de eventos cardiovasculares major em adultos com diabetes tipo 2 e doença cardiovascular estabelecida.
3. Mecanismos de Ação
Agonista do recetor de GLP-1: O semaglutido é um análogo do GLP-1 humano que se liga seletivamente aos recetores de GLP-1, estimulando a secreção de insulina pelas células beta do pâncreas de forma dependente da glicose.
Redução da secreção de glucagon: Diminui a secreção de glucagon pelas células alfa do pâncreas, reduzindo a produção hepática de glicose.
Atraso do esvaziamento gástrico: Retarda o esvaziamento gástrico, contribuindo para a diminuição das excursões glicémicas pós-prandiais.
Supressão do apetite: Atua nos centros hipotalâmicos de regulação do apetite, levando a uma redução da ingestão calórica e promovendo a perda de peso.
Efeitos cardiovasculares: Pode melhorar parâmetros cardiovasculares, incluindo a redução da pressão arterial sistólica e melhorias no perfil lipídico, diminuindo o risco cardiovascular.
4. Aspectos-Chave da Posologia e Modo de Administração
Posologia inicial: A dose inicial recomendada é de 0,25 mg de semaglutido administrada uma vez por semana durante as primeiras 4 semanas. Esta dose inicial tem como objetivo reduzir a ocorrência de efeitos adversos gastrointestinais e não proporciona controlo glicémico pleno.
Aumento gradual da dose: Após 4 semanas, a dose deve ser aumentada para 0,5 mg uma vez por semana. Se for necessário um maior controlo glicémico, a dose pode ser aumentada para 1 mg uma vez por semana após, pelo menos, 4 semanas com a dose de 0,5 mg. Em alguns casos, pode ser considerada a titulação até 2 mg uma vez por semana, seguindo o mesmo intervalo de tempo.
Administração: O semaglutido é administrado por via subcutânea no abdómen, coxa ou braço. O local da injeção pode ser alterado sem necessidade de ajuste da dose.
Horário de administração: Deve ser administrado no mesmo dia todas as semanas, a qualquer hora do dia, com ou sem alimentos.
Omissão de uma dose: Se uma dose for esquecida, pode ser administrada dentro de 5 dias após a data prevista. Se tiverem passado mais de 5 dias, a dose omitida deve ser ignorada e retomar o esquema habitual no próximo dia programado.
Ajuste de dose com outros antidiabéticos: Ao iniciar o semaglutido em combinação com sulfonilureias ou insulina, pode ser necessário reduzir a dose destes medicamentos para minimizar o risco de hipoglicemia.
Populações especiais:
Idosos: Não é necessário ajuste de dose com base na idade. A experiência em doentes com mais de 75 anos é limitada.
Compromisso renal: Não é necessário ajuste de dose em doentes com compromisso renal ligeiro, moderado ou grave. A utilização em doentes com doença renal terminal não é recomendada devido à experiência limitada.
Compromisso hepático: Não é necessário ajuste de dose. Deve haver precaução em doentes com compromisso hepático grave devido à experiência limitada.
5. Efeitos Adversos e Precauções/Contraindicações Relevantes
Efeitos adversos gastrointestinais: Os efeitos adversos mais comuns incluem náuseas, vómitos, diarreia e obstipação. Geralmente são ligeiros a moderados e tendem a diminuir com o tempo. A titulação gradual da dose pode ajudar a reduzir a incidência destes efeitos.
Hipoglicemia: Quando combinado com sulfonilureias ou insulina, existe um risco aumentado de hipoglicemia. Pode ser necessário ajustar a dose destes medicamentos para reduzir este risco.
Pancreatite aguda: Foram relatados casos de pancreatite aguda. Se houver suspeita ou confirmação de pancreatite, o tratamento com semaglutido deve ser descontinuado.
Retinopatia diabética: Pode ocorrer agravamento da retinopatia diabética, especialmente em doentes com historial da doença e tratados com insulina. Recomenda-se monitorização cuidadosa.
Reações de hipersensibilidade: Foram reportadas reações de hipersensibilidade, incluindo anafilaxia e angioedema. Na ocorrência de reações graves, o tratamento deve ser interrompido imediatamente.
Contraindicações: Hipersensibilidade conhecida ao semaglutido ou a qualquer um dos excipientes. Não deve ser utilizado em doentes com história pessoal ou familiar de carcinoma medular da tiroide ou com síndrome de neoplasia endócrina múltipla tipo 2.
Precauções: Não está indicado para o tratamento da diabetes tipo 1 ou cetoacidose diabética. O atraso do esvaziamento gástrico pode afetar a absorção de medicamentos orais; deve-se ter cautela em doentes a tomar medicamentos com margem terapêutica estreita ou que requerem absorção rápida.
6. Interações Clinicamente Relevantes
Medicamentos orais: O atraso no esvaziamento gástrico pode afetar a absorção de medicamentos orais. Deve-se monitorizar a eficácia de medicamentos críticos e ajustar a administração conforme necessário.
Varfarina e anticoagulantes cumarínicos: Pode haver alterações na Razão Normalizada Internacional (RNI). Recomenda-se monitorização frequente da RNI ao iniciar ou ajustar a dose de semaglutido.
Sulfonilureias e insulina: A combinação aumenta o risco de hipoglicemia. Pode ser necessário reduzir a dose destes medicamentos.
Paracetamol: O semaglutido pode atrasar a absorção do paracetamol; no entanto, não é necessário ajuste de dose.
Contracetivos orais: A eficácia dos contracetivos orais não é afetada, mas recomenda-se precaução devido ao potencial atraso na absorção.
7. Aspectos-Chave da Utilização em Populações Especiais
Gravidez: Contraindicado durante a gravidez devido à falta de dados em humanos e evidência de toxicidade reprodutiva em estudos animais. Deve ser interrompido pelo menos 2 meses antes de uma gravidez planeada.
Aleitamento: Não é recomendado durante a amamentação, pois não se sabe se é excretado no leite materno e não se pode excluir risco para o lactente.
Idosos: Não é necessário ajuste de dose baseado na idade. Deve-se considerar a função renal e hepática.
Compromisso renal: Sem necessidade de ajuste de dose em compromisso renal ligeiro a grave. O uso não é recomendado em doença renal terminal devido à experiência limitada.
Compromisso hepático: Não é necessário ajuste de dose. Deve-se ter precaução em compromisso hepático grave pela experiência limitada.
Crianças e adolescentes: A segurança e eficácia não foram estabelecidas em menores de 18 anos. Não é recomendado nesta população.
Retinopatia diabética: Monitorização cuidadosa é necessária, especialmente em doentes com historial da doença e em tratamento com insulina.
8. Informação aos Doentes
Ensinar a técnica correta de injeção e a importância de rodar os locais de aplicação.
Informar sobre os possíveis efeitos gastrointestinais e que geralmente diminuem com o tempo.
Alertar para os sinais de hipoglicemia e como agir em caso de ocorrência, especialmente se estiver a tomar sulfonilureias ou insulina.
Orientar para notificar imediatamente qualquer sintoma de pancreatite (dor abdominal intensa persistente).
Explicar a importância de aderir a uma dieta equilibrada e atividade física regular.
Informar sobre a necessidade de comunicar ao médico qualquer intenção de engravidar ou se ocorrer gravidez.
9. Monitorização
Eficácia: Monitorizar regularmente a HbA1c para avaliar o controlo glicémico. Avaliar o peso corporal e os parâmetros metabólicos associados.
Segurança: Observar para sintomas de pancreatite e retinopatia diabética. Monitorizar a RNI em doentes a tomar varfarina. Vigiar sinais de hipoglicemia em doentes em terapia combinada com sulfonilureias ou insulina.
10. Notas Adicionais
Estudos clínicos demonstraram que o semaglutido é superior a outros antidiabéticos na redução da HbA1c e do peso corporal (Marso et al., 2016).
O semaglutido reduziu significativamente o risco de eventos cardiovasculares major em doentes com diabetes tipo 2 e doença cardiovascular estabelecida (Marso et al., 2016).
A formulação oral de semaglutido foi desenvolvida para melhorar a adesão ao tratamento, embora apresente menor biodisponibilidade em comparação com a via subcutânea (Baekdal et al., 2017).
Estudos recentes indicam a eficácia do semaglutido na gestão do peso em indivíduos com obesidade sem diabetes, mostrando perdas de peso significativas (Wilding et al., 2021).
O semaglutido mostrou melhorias em parâmetros de risco cardiovascular, incluindo redução da pressão arterial e melhoria do perfil lipídico (Pratley et al., 2018).
A conveniência da administração semanal pode melhorar a adesão ao tratamento em comparação com medicamentos de administração diária.
A monitorização regular e educação do doente são essenciais para maximizar os benefícios terapêuticos e minimizar os riscos.
11. Pérolas para a Utilização na Prática Clínica
Titulação gradual: Aumentar a dose de forma progressiva ajuda a minimizar efeitos gastrointestinais e melhorar a tolerabilidade.
Perda de peso significativa: Além do controlo glicémico, o semaglutido promove perda de peso substancial, beneficiando doentes com excesso de peso ou obesidade.
Benefícios cardiovasculares: Considerar em doentes com alto risco cardiovascular devido à redução comprovada de eventos cardiovasculares major.
Educação do doente: A formação adequada sobre a utilização do dispositivo de administração e gestão de efeitos adversos é fundamental para a adesão ao tratamento.
Atenção às interações: Estar atento a medicamentos cuja absorção possa ser afetada pelo atraso do esvaziamento gástrico.
Acompanhamento multidisciplinar: A colaboração entre endocrinologistas, nutricionistas e outros profissionais de saúde otimiza os resultados terapêuticos.
Marso SP et al. Semaglutide and Cardiovascular Outcomes in Patients with Type 2 Diabetes. N Engl J Med. 2016;375(19):1834-1844.
Baekdal TA et al. Pharmacokinetics, safety and tolerability of oral semaglutide in healthy male subjects: A randomized controlled trial. Clin Pharmacokinet. 2017;56(6):703-712.
Wilding JPH et al. Once-Weekly Semaglutide in Adults with Overweight or Obesity. N Engl J Med. 2021;384(11):989-1002.
Pratley RE et al. Cardiovascular Safety and Benefits of Semaglutide in Subjects with Type 2 Diabetes at High Cardiovascular Risk. Diabetes Obes Metab. 2018;20(9):2102-2110.
Quetiapina
Física
1. Grupo Farmacoterapêutico e DCI(s)
Denominação Comum Internacional (DCI): Quetiapina.
Grupo farmacoterapêutico: Antipsicóticos atípicos; diazepinas, oxazepinas, tiazepinas e oxepinas. Código ATC: N05AH04.
2. Indicações Principais
A quetiapina é utilizada no tratamento de:
Esquizofrenia: Gestão de sintomas positivos e negativos em doentes adultos.
Perturbação bipolar:
Episódios maníacos moderados a graves associados à perturbação bipolar.
Episódios depressivos major na perturbação bipolar.
Prevenção de recorrências em doentes com perturbação bipolar que responderam previamente ao tratamento com quetiapina.
Perturbação Depressiva Major (PDM): Terapia adjuvante para episódios depressivos major em doentes que não responderam adequadamente à monoterapia antidepressiva.
3. Mecanismos de Ação
A quetiapina é um antipsicótico atípico que atua como antagonista dos recetores de serotonina (5-HT2) e dopamina D1 e D2, contribuindo para os seus efeitos antipsicóticos e estabilizadores do humor.
Possui afinidade para recetores histaminérgicos H1 e adrenérgicos α1 e α2, o que explica efeitos como sedação e hipotensão ortostática.
O metabolito ativo norquetiapina inibe o transportador de norepinefrina (NET) e atua como agonista parcial dos recetores 5-HT1A, contribuindo para a eficácia antidepressiva.
Os efeitos anticolinérgicos resultam da afinidade da norquetiapina para os recetores muscarínicos M1, podendo levar a efeitos como boca seca e obstipação.
O perfil farmacológico com menor afinidade para recetores dopaminérgicos D2 em relação aos 5-HT2 está associado a um menor risco de sintomas extrapiramidais comparativamente aos antipsicóticos típicos.
4. Aspectos-Chave da Posologia e Modo de Administração
Esquizofrenia e episódios maníacos na perturbação bipolar:
Dia 1: 300 mg uma vez ao dia.
Dia 2: 600 mg uma vez ao dia.
Manutenção: Dose diária recomendada de 600 mg, podendo ser ajustada entre 400 mg e 800 mg/dia conforme a resposta clínica e tolerabilidade.
Episódios depressivos na perturbação bipolar:
Dia 1: 50 mg ao deitar.
Dia 2: 100 mg ao deitar.
Dia 3: 200 mg ao deitar.
Dia 4: 300 mg ao deitar (dose diária recomendada).
Ajustes: Em alguns doentes, a dose pode ser aumentada até 600 mg/dia ou reduzida até um mínimo de 200 mg/dia, dependendo da tolerabilidade.
Perturbação Depressiva Major (PDM) como terapia adjuvante:
Dias 1 e 2: 50 mg ao deitar.
Dias 3 e 4: 150 mg ao deitar.
Manutenção: Dose entre 50 mg e 300 mg/dia, utilizando a dose eficaz mais baixa possível.
Populações especiais:
Idosos: Iniciar com 50 mg/dia, aumentando gradualmente em incrementos de 50 mg/dia conforme tolerabilidade.
Compromisso hepático: Iniciar com 50 mg/dia, ajustando a dose conforme a resposta clínica.
Compromisso renal: Não é necessário ajuste posológico.
Modo de administração: A quetiapina deve ser administrada por via oral, uma vez ao dia, preferencialmente sem alimentos. Os comprimidos devem ser engolidos inteiros, sem partir, mastigar ou esmagar.
5. Efeitos Adversos e Precauções/Contraindicações Relevantes
Efeitos adversos comuns:
Sonolência e sedação.
Tonturas e hipotensão ortostática.
Boca seca.
Aumento de peso.
Obstipação.
Sintomas extrapiramidais (SEP), especialmente em doses elevadas.
Aumento dos níveis de prolactina.
Elevações transitórias das transaminases hepáticas (ALT, AST).
Efeitos adversos graves:
Síndrome neuroléptica maligna.
Discinesia tardia.
Convulsões.
Neutropenia grave e agranulocitose.
Prolongamento do intervalo QT e arritmias cardíacas.
Reações cutâneas graves (p.ex., Síndrome de Stevens-Johnson).
Priapismo.
Precauções:
Doenças cardiovasculares: Utilizar com precaução devido ao risco de hipotensão ortostática e prolongamento do intervalo QT.
Sintomas extrapiramidais: Monitorizar, especialmente em doentes jovens e em doses elevadas.
Síndrome neuroléptica maligna: Suspender o tratamento se surgirem sinais como hipertermia, rigidez muscular e instabilidade autonómica.
Convulsões: Utilizar com cautela em doentes com história de convulsões.
Metabolismo: Monitorizar glicemia e perfil lipídico devido ao risco de hiperglicemia e dislipidemia.
Hematologia: Observar sinais de neutropenia ou agranulocitose; realizar hemogramas periódicos.
Descontinuação: Suspender gradualmente para evitar sintomas de abstinência.
Interações: Evitar coadministração com inibidores potentes do CYP3A4.
Contraindicações:
Hipersensibilidade à quetiapina ou a qualquer excipiente.
Administração concomitante com inibidores do CYP3A4 (p.ex., inibidores da protease, cetoconazol, eritromicina, claritromicina, nefazodona).
6. Interações Clinicamente Relevantes
Indutores do CYP3A4 (p.ex., carbamazepina, fenitoína): Diminuem os níveis plasmáticos de quetiapina, podendo reduzir a eficácia. Considerar substituição por agentes não indutores.
Inibidores do CYP3A4 (p.ex., cetoconazol, itraconazol): Aumentam os níveis plasmáticos de quetiapina, aumentando o risco de efeitos adversos. A coadministração é contraindicada.
Fármacos que prolongam o intervalo QT (p.ex., antiarrítmicos classe IA e III): Podem aumentar o risco de arritmias cardíacas.
Álcool e depressores do SNC: Podem potenciar os efeitos sedativos da quetiapina.
Fármacos anticolinérgicos: Aumentam o risco de efeitos anticolinérgicos, como retenção urinária e obstipação.
7. Aspectos-Chave da Utilização em Populações Especiais
Gravidez: Utilizar apenas se os benefícios justificarem os potenciais riscos. Recém-nascidos expostos no terceiro trimestre devem ser monitorizados para sintomas extrapiramidais e de abstinência.
Aleitamento: A decisão de continuar a amamentação ou o tratamento deve ser tomada considerando os benefícios para a mãe e para a criança, pois a quetiapina é excretada no leite materno em quantidades limitadas.
Idosos: Iniciar com doses mais baixas (50 mg/dia) e aumentar gradualmente. Maior susceptibilidade a hipotensão ortostática e sedação. Precaução em doentes com demência devido ao aumento do risco de eventos cerebrovasculares e mortalidade.
Crianças e adolescentes: Não recomendado em menores de 18 anos devido à falta de dados de segurança e eficácia. Maior incidência de efeitos adversos como aumento de peso e sintomas extrapiramidais.
Compromisso hepático: Iniciar com 50 mg/dia e ajustar a dose conforme tolerabilidade, devido à metabolização hepática extensiva da quetiapina.
Compromisso renal: Não é necessário ajuste posológico, mas deve-se ter precaução.
História de abuso de substâncias: Utilizar com precaução; foram reportados casos de uso indevido e abuso.
8. Informação aos Doentes
Tomar a medicação conforme prescrito, mesmo que os sintomas melhorem.
Evitar conduzir ou operar máquinas até conhecer os efeitos da quetiapina, devido à possibilidade de sonolência e tonturas.
Adotar uma dieta equilibrada e prática regular de exercício físico para controlar o peso.
Informar imediatamente o médico se surgirem sintomas como febre alta, rigidez muscular ou confusão.
Não interromper o tratamento sem consultar o médico, para evitar sintomas de abstinência.
Evitar o consumo de álcool durante o tratamento.
9. Monitorização
Eficácia: Avaliar regularmente a melhoria dos sintomas utilizando escalas clínicas apropriadas (p.ex., PANSS para esquizofrenia, YMRS para mania, MADRS para depressão).
Segurança:
Monitorizar peso, IMC e perímetro abdominal.
Avaliar glicemia em jejum e perfil lipídico periodicamente.
Controlar a pressão arterial, especialmente no início do tratamento.
Realizar hemogramas para detetar possíveis alterações hematológicas.
Monitorizar sinais de sintomas extrapiramidais e discinesia tardia.
Realizar ECG em doentes com fatores de risco cardíaco.
10. Notas Adicionais
A quetiapina está disponível em formulações de libertação imediata e prolongada, permitindo flexibilidade na administração e ajuste posológico.
O uso de quetiapina para tratamento de insónia não é recomendado devido ao perfil de efeitos adversos e falta de evidência robusta (Anderson & Vande Griend, 2014).
Há relatos de uso indevido e abuso de quetiapina, particularmente em indivíduos com história de abuso de substâncias (Modesto-Lowe et al., 2021).
A quetiapina pode estar associada a efeitos metabólicos adversos, incluindo síndrome metabólica; a monitorização regular é essencial (Jalota et al., 2012).
A evidência suporta a eficácia da quetiapina como adjuvante no tratamento da depressão resistente, mas os riscos e benefícios devem ser avaliados individualmente (Komossa et al., 2010).
11. Pérolas para a Utilização na Prática Clínica
Sedação: Útil em doentes com agitação ou insónia associadas a doenças psicóticas ou afetivas, mas deve-se evitar sedação excessiva.
Risco Metabólico: Implementar medidas preventivas e monitorização regular devido ao potencial de aumento de peso e alterações metabólicas.
Descontinuação Gradual: Reduzir a dose gradualmente para minimizar o risco de sintomas de abstinência.
Ajuste Posológico Individualizado: Considerar características individuais do doente, como idade, função hepática e presença de comorbilidades, ao ajustar a dose.
Educação do Doente: Informar sobre a importância da adesão ao tratamento e comunicar quaisquer efeitos adversos ou preocupações.
Anderson, Sarah L., and Joseph P. Vande Griend. (2014) Quetiapine for insomnia: a review of the literature. American journal of health-system pharmacy 71(5), 394-402.
Carrizo, E., Fernández, V., Quintero, J., Connell, L., Rodríguez, Z., Mosquera, M., ... & Baptista, T. (2008). Coagulation and inflammation markers during atypical or typical antipsychotic treatment in schizophrenia patients and drug-free first-degree relatives. Schizophrenia research, 103(1-3), 83-93.
Jalota, R., Bond, C., & Jose, R. J. (2015). Quetiapine and the development of the metabolic syndrome. QJM: An International Journal of Medicine, 108(3), 245-247.
Komossa, K., Depping, A. M., Gaudchau, A., Kissling, W., & Leucht, S. (2010). Second‐generation antipsychotics for major depressive disorder and dysthymia. Cochrane Database of Systematic Reviews, (12).
Pantoprazol
Física
1. Grupo Farmacoterapêutico e DCI(s)
Denominação Comum Internacional (DCI): Pantoprazol.
Grupo farmacoterapêutico: Antiácidos e antiulcerosos. Modificadores da secreção gástrica. Inibidores da bomba de protões. Código ATC: A02BC02.
2. Indicações Principais
Pantoprazol é utilizado para o tratamento e prevenção de condições associadas ao excesso de ácido gástrico:
Doença de refluxo gastroesofágico (DRGE): Alívio dos sintomas como azia, regurgitação ácida e disfagia.
Esofagite de refluxo: Tratamento e prevenção de recidivas.
Úlceras gástricas e duodenais: Tratamento de úlceras pépticas.
Erradicação de Helicobacter pylori: Em combinação com terapêutica antibiótica adequada.
Síndrome de Zollinger-Ellison e outras condições de hipersecreção patológica: Tratamento a longo prazo para controlar a secreção ácida excessiva.
Prevenção de úlceras gastroduodenais induzidas por anti-inflamatórios não esteroides (AINEs): Em doentes de risco que necessitam de terapia contínua com AINEs.
3. Mecanismos de Ação
Pantoprazol é um inibidor da bomba de protões que atua bloqueando irreversivelmente a enzima H+/K+-ATPase nas células parietais gástricas.
Inibe a etapa final da produção de ácido clorídrico, reduzindo tanto a secreção basal como a estimulada de ácido gástrico.
A redução da acidez gástrica promove a cicatrização de lesões na mucosa gastrointestinal e alivia os sintomas associados ao refluxo ácido.
É um pró-fármaco que, após administração oral, é ativado no ambiente ácido dos canalículos das células parietais.
O efeito inibitório sobre a secreção ácida é dose-dependente e pode durar mais de 24 horas, permitindo uma administração diária única.
4. Aspectos-Chave da Posologia e Modo de Administração
Adultos e adolescentes a partir dos 12 anos:
Doença de refluxo gastroesofágico e sintomas associados: 20 mg uma vez por dia. O alívio dos sintomas é geralmente alcançado em 2 a 4 semanas; se necessário, o tratamento pode ser prolongado por mais 4 semanas.
Esofagite de refluxo: 40 mg uma vez por dia durante 4 semanas, podendo ser prolongado por mais 4 semanas se não houver cicatrização completa.
Prevenção de úlceras induzidas por AINEs: 20 mg uma vez por dia em doentes de risco que necessitam de tratamento contínuo com AINEs.
Adultos:
Erradicação de Helicobacter pylori: 40 mg duas vezes por dia em combinação com antibióticos (por exemplo, claritromicina e amoxicilina ou metronidazol) durante 7 a 14 dias.
Síndrome de Zollinger-Ellison e outras condições hipersecretoras: Dose inicial de 80 mg por dia, ajustada conforme necessário; doses superiores a 80 mg devem ser divididas em duas administrações diárias.
Insuficiência hepática: Em doentes com insuficiência hepática grave, a dose diária não deve exceder 20 mg; monitorização regular das enzimas hepáticas é recomendada.
Insuficiência renal: Não é necessário ajuste de dose.
Idosos: Não é necessário ajuste de dose; no entanto, deve-se considerar a função renal e hepática.
Modo de administração: Os comprimidos gastrorresistentes devem ser engolidos inteiros com água uma hora antes da refeição; não devem ser mastigados ou partidos.
5. Efeitos Adversos e Precauções/Contraindicações Relevantes
Hipomagnesemia com possíveis consequências como tetania, arritmias ventriculares; pode levar a hipocalcemia e hipocaliemia.
Fraturas ósseas, especialmente da anca, punho e coluna, associadas ao uso prolongado e em doses elevadas.
Lúpus eritematoso cutâneo subagudo.
Reações cutâneas graves como síndrome de Stevens-Johnson e necrólise epidérmica tóxica.
Precauções:
Em doentes com sintomas de alarme (por exemplo, perda de peso não intencional, hemorragia gastrointestinal), excluir malignidade gástrica antes do tratamento.
Monitorizar magnésio sérico em tratamentos prolongados ou quando usados concomitantemente com medicamentos que podem causar hipomagnesemia (por exemplo, diuréticos).
Usar com precaução em doentes com risco de osteoporose; considerar suplementação de vitamina D e cálcio.
A coadministração com atazanavir e outros inibidores da protease do VIH dependentes do pH ácido não é recomendada.
Contraindicações:
Hipersensibilidade ao pantoprazol, a outros benzimidazóis substituídos ou a qualquer excipiente da formulação.
6. Interações Clinicamente Relevantes
Medicamentos dependentes do pH gástrico para absorção: Pode diminuir a absorção de cetoconazol, itraconazol, posaconazol, erlotinib, entre outros.
Varfarina e outros anticoagulantes cumarínicos: Possível aumento do INR e tempo de protrombina; monitorizar parâmetros de coagulação.
Metotrexato: Pode aumentar os níveis séricos de metotrexato; pode ser necessário suspender temporariamente o pantoprazol em altas doses de metotrexato.
Inibidores da protease do VIH: A coadministração com atazanavir é desaconselhada devido à redução da eficácia deste.
7. Aspectos-Chave da Utilização em Populações Especiais
Gravidez: Deve ser utilizado apenas se o benefício justificar o potencial risco para o feto; estudos em animais não indicam efeitos prejudiciais diretos ou indiretos.
Aleitamento: Excretado no leite materno; a decisão de continuar ou interromper o aleitamento deve considerar o benefício para a mãe e o potencial risco para o lactente.
Idosos: Geralmente bem tolerado; considerar a função renal e hepática e o risco de fraturas ósseas em uso prolongado.
Insuficiência hepática: Não exceder 20 mg por dia em insuficiência hepática grave; monitorizar enzimas hepáticas.
Insuficiência renal: Não é necessário ajuste de dose.
Crianças e adolescentes: A segurança e eficácia não foram estabelecidas em crianças com menos de 12 anos.
Osteoporose: Doentes com risco devem receber cuidados adequados e suplementação de cálcio e vitamina D.
8. Informação aos Doentes
Tomar o medicamento uma hora antes da refeição, engolindo o comprimido inteiro com água.
Não partir ou mastigar os comprimidos.
Não interromper o tratamento sem consultar o médico, mesmo que os sintomas melhorem.
Informar o médico sobre todos os medicamentos que está a tomar, incluindo medicamentos sem receita médica.
Contactar o médico se surgirem sintomas como perda de peso involuntária, vómitos persistentes, dificuldade em engolir, sangue nas fezes ou anemia.
9. Monitorização
Eficácia: Avaliação clínica dos sintomas gastrointestinais; endoscopia se indicado.
Segurança: Monitorizar enzimas hepáticas em doentes com insuficiência hepática; níveis de magnésio em tratamentos prolongados; parâmetros de coagulação se usado com varfarina.
10. Notas Adicionais
Disponibilidade de formulações: Pantoprazol está disponível em comprimidos gastrorresistentes de 20 mg e 40 mg, permitindo ajustes posológicos conforme a necessidade clínica.
Uso intravenoso: Existe formulação intravenosa para situações em que a administração oral não é possível; deve ser substituída pela via oral assim que possível.
Uso prolongado: Tratamentos de longa duração podem aumentar o risco de efeitos adversos como hipomagnesemia, fraturas ósseas e deficiência de vitamina B12; recomenda-se uso na menor dose eficaz pelo menor tempo necessário.
Estudos recentes:
Vários estudos têm investigado os efeitos do pantoprazol e outros inibidores da bomba de protões (IBPs):
Estudos observacionais sugerem uma possível associação entre o uso prolongado de IBPs e o aumento do risco de doença renal crónica; no entanto, a relação causal não está estabelecida e são necessários mais estudos (Lazarus et al., 2016).
O uso prolongado de IBPs tem sido associado a um risco aumentado de fraturas osteoporóticas, possivelmente devido à redução da absorção de cálcio e magnésio (Corley et al., 2010).
A hipomagnesemia induzida por IBPs é um efeito adverso raro mas potencialmente grave; a monitorização dos níveis de magnésio é recomendada em tratamentos prolongados ou quando usados com outros medicamentos que possam causar hipomagnesemia (Cheungpasitporn et al., 2015).
Alguns estudos indicam que os IBPs podem interferir na eficácia de certos medicamentos antineoplásicos devido à alteração do pH gástrico e consequente absorção dos fármacos (Liu et al., 2013).
11. Pérolas para a Utilização na Prática Clínica
Uso racional: Avaliar periodicamente a necessidade contínua de terapia com pantoprazol, especialmente em tratamentos prolongados.
Interações medicamentosas: Estar atento a medicamentos cuja absorção depende do pH gástrico; ajustar terapêuticas conforme necessário.
Monitorização: Considerar a monitorização de eletrólitos (magnésio, cálcio) em doentes em terapêutica prolongada.
Sintomas mascarados: O alívio sintomático pode atrasar o diagnóstico de condições graves; investigar adequadamente se persistirem sintomas alarmantes.
Educação do doente: Informar sobre a importância de seguir as instruções de administração e de não exceder a dose recomendada.
Lazarus, B., Chen, Y., Wilson, F. P., Sang, Y., Chang, A. R., Coresh, J., & Grams, M. E. (2016). Proton pump inhibitor use and the risk of chronic kidney disease. JAMA Internal Medicine, 176(2), 238-246.
Corley, D. A., Kubo, A., Zhao, W., & Quesenberry, C. (2010). Proton pump inhibitors and histamine-2 receptor antagonists are associated with hip fractures among at-risk patients. Gastroenterology, 139(1), 93-101.
Cheungpasitporn, W., Thongprayoon, C., Kittanamongkolchai, W., Brabec, B. A., O'Corragain, O. A., Edmonds, P. J., & Erickson, S. B. (2015). Proton pump inhibitors linked to hypomagnesemia: a systematic review and meta-analysis of observational studies. Renal Failure, 37(7), 1237-1241.
Liu, J., Shen, J., & Yu, H. G. (2013). Effect of pantoprazole on the pharmacokinetics of erlotinib in patients with advanced solid tumors. Anti-Cancer Drugs, 24(9), 1000-1006.